sábado, 13 de novembro de 2010


E por aí vai.


Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de
sobremesa,contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na
minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido.

Uma só.

Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da
sobremesa.

Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência,
comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a
repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas
maneiras ou moderação.


O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.

A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de
aventuras pela metade.

A gente sai pra jantar, mas come pouco.

Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.

conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é
difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser
rotulada de 'fácil').


Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar
os recursos do planeta./


Tem vontade de ficar em casa vendo um dvd, esparramada no sofá,
mas se obriga a ir malhar./


E por aí vai.


Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em
passar na vida sem pegar recuperação...

Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta e
existencialmente sem-graça, enquanto a gente vai ficando
melancolicamente sem tesão...


Às vezes dá vontade de fazer tudo “errado”.

Deixar de lado a régua, o compasso, a bússola, a balança e os 10
mandamentos.

Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que
dizem e o que pensam a nosso respeito.

Recusar prazeres incompletos e meias porções.


Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem,
podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos
sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o
coração saciado.


Um dia a gente cria juízo.

Um dia...

Não tem que ser agora.


Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de
chocolate...

Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.
................
Eu posso
ser muito carinhosa ou muito grossa, dependendo de você. Eu posso ser muito paciente e me irritar com facilidade. Eu posso amar uma coisa e mesmo assim não querer. Eu posso lutar por qualquer coisa e de uma hora para outra achar que não merece o meu esforço. Eu posso me apaixonar da primeira vez que vejo alguém como também posso não gostar sem motivo. Eu posso amar minha vida e de uma hora para outra perguntar: "Por que eu vivo?" Eu posso amar preto e escolher o branco. Eu posso achar errado e amanhã fazer a mesma coisa. Eu posso ser compreensiva e ao mesmo tempo teimosa. Eu posso achar que sei tudo sabendo que não sei nada. Eu posso saber que não posso e mesmo assim fazer. Eu posso jogar tudo para o alto e começar tudo de novo por nada. 

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